quinta-feira, 13 de junho de 2013

O treino da estratégia: do papel para o campo O grande desafio dos treinadores, após terem acesso às informações, é passar o que sabem para a prática.

A observação de adversários assume cada vez mais um papel relevante no futebol contemporâneo, sendo que as equipes técnicas contam já com elementos ou mesmo departamentos que fazem a análise e a observação dos adversários.
Hoje em dia, os treinadores além de deverem construir um identidade forte para a sua própria equipe, através do treino dos princípios de jogo constituintes do seu modelo de jogo, procuram cada vez mais perceber quais as debilidades e virtudes dos seus adversários.
As informações sobre o adversário deverão revelar uma reflexão conjunta (do departamento de observação; do observador principal e do treinador adjunto ou principal), de forma que estas sejam devidamente partilhadas e entendidas por toda a estrutura técnica, sendo obtidas através da visualização de diversos jogos do adversário.
A elaboração de relatórios e entrega de vídeos pelos observadores é essencial, de forma que a informação seja devidamente comprovada e possa ser exemplificada aos jogadores se assim o treinador principal o entender.
Toda a informação recolhida deverá ter em atenção a forma de jogar da nossa equipe, sendo peremptório o conhecimento do modelo de jogo da equipe por parte de toda a estrutura técnica, percebendo assim como o time poderá tirar proveito dos pontos fracos do adversário e como poderá contrariar os seus pontos fortes.
Após todas estas premissas serem respeitadas, é importante a elaboração um plano para o jogo, ou seja um plano estratégico, de forma que as informações recolhidas possam traçar um caminho ajudando a equipe a atingir o sucesso.
O grande desafio dos treinadores após terem acesso a estas informações, será então passar o que sabem do papel para o campo de futebol. Será muito importante que os treinadores não caiam no erro de transmitirem as informações em longas palestras, em demoradas apresentações vídeo, ou transformarem o seu treino em uma aula sobre o adversário, descaracterizando a sua forma de jogar, comprometendo a sua identidade e criando medo e preocupação nos seus jogadores em vez de um sentimento de preparação absoluta e confiança para o confronto seguinte.
O treino deverá então ser composto por exercícios que forneçam aos jogadores, as pistas necessárias para que os mesmos percebam como podem aproveitar as debilidades adversárias e prevenirem-se para os pontos mais fortes dos seus opositores.
É importante que os exercícios contenham constrangimentos que guiem as ações dos jogadores para o objetivo pretendido pelo treinador. O exercício de treino deverá ser a principal ferramenta para que o plano estratégico resulte na prática e saia do papel com sucesso, consciencializando a equipe do que o treinador pretende para o jogo seguinte.
A conceitualização dos exercícios deverá ser direcionada para o treino do nosso modelo de jogo, mas a colocação de regra nos exercícios poderá ajudar os treinadores a criarem algumas nuances estratégicas que permitirão consciencializar a equipe do pretendido.
Os jogadores não deverão ser alertados do pretendido antes de experimentarem os exercícios (refiro-me aos objetivos estratégicos), possibilitando aos mesmos a descoberta de soluções e a percepção das dificuldades que o exercício lhes apresenta. Estas soluções e dificuldades que os exercícios apresentam deverão guiar os jogadores a perceberem o que fazer no próximo jogo.
Durante os exercícios o treinador deverá aí sim, ter um papel intervencionista, explicando o porquê do exercício ter determinadas regras e determinados constrangimentos (exemplo: colocação das balizas, divisão do espaço do exercício por setores ou corredores; limitação de tempo para recuperar posse de bola numa determinada zona; colocação de zonas limitadas em espaços a explorar antes de obter gol; limite do número de passes para variar o jogo de um corredor lateral para outro, obrigatoriedade de ir aos dois corredores laterais sendo que antes de marcar deverá existir uma variação através de diagonal uma longa etc.).
Estas são apenas algumas das regras que poderão ser utilizadas para guiar os jogadores a fazerem o pretendido pelo treinador, possibilitando a exploração de pontos fracos ou fortes do adversário seguinte. Para que, mais facilmente, possam entender a nossa forma de conceitualizar o treino da estratégia apresentamos um exemplo prático (exercício de treino).
Algumas características gerais do modelo de jogo da equipe A nos diferentes momentos de jogo:
1 - Privilegia o ataque pelos corredores laterais.
2 - Prefere a circulação de bola com recurso a muitos passes e mobilidade ofensiva.
3 - Procura fazer campo grande quando ataca.
4 - Defende zonalmente.
5 - Defende utilizando a concentração coletiva (campo pequeno).
6 - Pressiona após a perda da bola independentemente do local onde a perde, encurtando o espaço entre linhas.
7 - Transita para o ataque, preferencialmente, utilizando a exploração dos corredores laterais de forma rápida tentando provocar desequilíbrios nestas zonas do campo.
Equipa B – O adversário (Exemplo de alguns pontos fortes e fracos)
1 - Dificuldade nos cruzamentos ao 2º poste devido ao mau posicionamento dos seus laterais dentro da área, sendo que fecham mal o espaço entre central e lateral, deixando possivelmente que os extremo da equipe A e o ponta de lança possam antecipar-se aos laterais adversários.
2 - Equipe forte nas segundas bolas no meio-campo ofensivo adversário, sendo que após cruzamentos são fortes a reagir às segundas bolas encurtando o espaço entre meio de campo e ataque. Importante reagir rápido às segundas bolas que advêm de cruzamentos para dentro da nossa área.
3 - Existência de espaço nas costas dos médios centros da equipe B, derivado à elevada distância entre linhas (linha do setor defensivo e linha do setor intermédio). A equipe A deverá explorar este espaço entre linhas.
Exercício de treino da equipe A (permitindo o treino do nosso modelo de jogo e o treino de nuances estratégicas aproveitando as debilidades adversárias e prevenindo para os pontos fortes).
Não será apresentado o espaço do exercício nem a duração pois não se pretende com este exemplo refletir sobre o regime de esforço do mesmo, dependendo este do dia da semana que o treinador pretender operacionalizar este exercício.
- Ambas as equipes antes de marcarem gol têm de ir aos dois corredores laterais (respeita os princípios 1, 2, 3 do modelo de jogo).
- Gol obtido através de cruzamentos na 2º trave vale 3 gols para a equipe amarela (alerta para o ponto fraco 1 da equipe adversária e obriga a nossa equipe a treinar a concentração coletiva – princípio de jogo 5 e a lutar pela segunda bola após cruzamento – ponto forte 2).
- Os brancos marcam nas balizas colocadas no corredor central. Para que possa haver gol, a bola deverá passar por dentro da baliza e deverá existir a desmarcação de um jogador para receber a bola na zona X (alerta para a exploração do espaço nas costas dos médios centro adversários ou médio centro adversário - ponto fraco 3).
Cabe ao treinador e a sua equipe técnica criarem exercícios ricos em conteúdos, respeitando ao máximo a forma de jogar da equipe e dando aos seus jogadores soluções através da implementação de regras que os guiem para a percepção do plano estratégico para o jogo seguinte.
A transmissão da informação deverá incutir segurança aos jogadores, o recurso ao vídeo deverá ser efetuado, deverá existir um conjunto de imagens selecionadas com curto tempo de duração e o mais semelhantes possíveis entre si que permitam aos jogadores a percepção dos erros e virtudes adversárias.
Mas, na nossa opinião, não há melhor forma do que treinar a estratégia para o próximo jogo do que no campo de futebol, o habitat natural do jogador e dos treinadores.
A imaginação dos treinadores deverá ser desafiada e posta à prova pois, cada vez mais, a vertente estratégica do jogo se faz notar na alta competição e nas divisões profissionais de todo o futebol mundial.
Cabe aos mesmos transportarem do papel para o terreno de jogo toda a informação que possam dispor sobre o adversário respeitando a forma de jogar da equipe que treinam.
Texto transcrito do Site da Universidade do Futebol, escrito por: Jose Barbosa e Luis Freire.

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